Está no Aurélio: “coreto, substantivo masculino, pavilhão erigido em praças ou jardins públicos, para concertos musicais”. Com a evolução e mudança arquitetônica das cidades, tais lugares entrarem em desuso.
Mas seu intuito, unir pessoas da comunidade em volta da música, continua existindo hoje nos Shopping Centers. Suas praças viraram verdadeiros coretos modernos. Basta observar a agenda de atividades de cada Shopping Center para notar que os shows gratuitos e encontros musicais se tornaram um poderoso chamariz e ação de relacionamento com o frequentador.
Tem para todos os gostos: desde atrações locais, com forte conexão com a comunidade, até atrações pedidas pelo próprio público. Todas as semanas pipocam shows gratuitos nos malls brasileiros. Nesta semana, que antecede o Dia das Mães, apenas para citar alguns, passaram pelos “coretos” dos malls artistas como Vanessa da Mata, Paralamas do Sucesso, Guilherme Arantes e Toquinho.
O Boa Vista Shopping, de São Paulo, costuma organizar shows maiores em datas importantes, como o aniversário do mall e homenagens em datas sazonais, e shows menores com apresentações de artistas locais e bandas covers no período de happy hour, sempre na área da Praça de Alimentação. Márcia Campioto, gerente de marketing do shopping, conta que a escolha do artista varia de acordo com o evento. “Por exemplo, no carnaval optamos pelo bailinho com músicas como marchinhas e outros ritmos típicos do carnaval. O repertório costuma ser de acordo com a data”, diz. Datas especiais, como Dia das Mães e Namorados, requerem algo mais, digamos assim, romântico e tranquilo como violino e saxofone. Já no happy hour, o shopping opta por uma mescla de ritmos e instrumentos como Voz e Violão, MBP, violino com clássicos de filmes e até dupla sertaneja, e as bandas covers com palco e iluminação mais elaborada para que o cliente sinta como se estivesse voltando no tempo. “Queremos oferecer opção de entretenimento de qualidade para fidelizar nosso cliente e consequentemente aumentar o fluxo”, conta Márcia.
O trabalho de bastidor exige tempo e dedicação, como qualquer show. Para shows maiores, o mall contrata uma empresa terceirizada, especializada, que cuida de todo aparato estrutural e tecnológico, iluminação e sonorização, preparação de camarim e traslado do artista. “Na maioria das vezes, não é algo trabalhoso, pois a empresa terceirizada passa o briefing aos músicos e acerta os detalhes de passagem de som. O principal desafio é negociar valores e datas”, conta Márcia.
A divulgação dos shows se concentra nas redes sociais, mídia interna do shopping e regional e assessoria de imprensa. É nas redes sociais também que o Boa Vista Shopping percebe a aceitação da estratégia. “Quando o público gosta, ele pede bis, comenta nas redes sociais, o que nos auxilia na avaliação da continuidade”. Outro termômetro importante são os lojistas. “Quando o show está relacionado a alguma promoção ‘comprou ganhou’ ou sorteio, os lojistas percebem mudança nas vendas na hora”, diz.
Praça de Alimentação do Shopping Total vira um "coreto moderno"
Após a realização dos shows, a equipe de marketing levanta informações para avaliar a performance: fluxo de pessoas, veículos, volume de vendas, tempo de permanência, etc. “Com base nesses dados, verificamos o retorno sobre o investimento realizado, além de listarmos pontos qualitativos de melhoria que sirvam de referência para as próximas campanhas”, diz ela.
“Acreditamos que o shopping é muito mais do que um centro de compras, é um centro de convivência. Por isso, apostamos na estratégia de entretenimento para geração e ampliação do fluxo, fidelização dos clientes e aumento do tempo de permanência no mall. Em paralelo, estimulamos os nossos lojistas a promover ações diferenciadas e condições especiais para que a venda aconteça como consequência da visita, durante o tempo de convivência dos consumidores no shopping”, conta a gerente.
Dependendo do porte do evento, o mall estuda o melhor local para a realização, levando em consideração a estratégia de atender extensões diferentes do shopping e assim irrigar uma dimensão maior de áreas e beneficiar mais lojas. Já foram realizados shows na Praça de Eventos, Praça de Alimentação, Espaço de Eventos, estacionamento externo e até mesmo dentro de uma loja vaga.
Ela conta que alguns artistas fazem exigências, mas nada que fuja muito ao padrão. Às vezes, são solicitados itens regionais, como água de coco, acarajé e abará. “No entanto, algumas vezes precisamos negociar para adequar os pleitos à nossa capacidade de atendimento”, diz.
A produção dos shows varia de acordo com o tipo, a localização e o porte do evento. Em média, entre negociações e recebimento das informações de rider técnico (lista de equipamentos de sonorização e/ou iluminação necessários) e exigência de camarim, são duas semanas de tratativas.
Na maioria das vezes, a equipe de marketing é responsável pela produção dos eventos, incluindo a contratação dos shows. É um trabalho desafiador, mas ao mesmo tempo, estimulante, conta. Ela dá a dica para outros malls que se preparam para montar uma agenda de shows: “O segredo é montar um cronograma assertivo, um check list o mais completo possível, se cercar de bons fornecedores, sempre ponderar a relação custo/benefício, acompanhar de perto cada etapa da produção e comunicar diretamente para o público-alvo”.
O Salvador Norte Shopping, recentemente, trouxe Guilherme Arantes para seu palco. O músico cantou sucessos de seus 40 anos de trajetória. “A reação do público é o nosso principal reconhecimento. Esquecemos de qualquer dificuldade ao ver as pessoas sorrindo, se divertindo e dançando. A emoção de proporcionar momentos em família, sem dúvida, é o melhor resultado do nosso trabalho”, comenta Gabriela Simões, gerente de marketing do shopping.
A animação é nítida. Aline se lembra de um acontecimento inusitado que se passou em um dos shows: “Um casal de namorados estava curtindo o show, e o rapaz escreveu um bilhete para os músicos pedindo uma música especial e o uso do microfone. Após tocar a música, o cantor passou o microfone para o rapaz que fez uma declaração de amor e pedido de casamento na frente de todos. Foi emocionante!”, conta ela.
Os lojistas da Praça de Alimentação usam o projeto para potencializar um dia da semana, oferecem cardápio específico com comidinhas especiais e promoções de chopp. Há também sorteios e distribuição de brindes do shopping e da rádio durante os shows.
“Após nove meses desse projeto, hoje já podemos afirmar que existem frequentadores fidelizados”, diz Aline, que considera a iniciativa positiva. “Há aumento de fluxo concentrado no dia e horário, interação nas redes sociais e aumento das vendas para o lojista. Hoje, os lojistas pedem para aumentarmos o número de dias dos shows”, conta.
No Shopping Total, de Curitiba, os shows acontecem em um palco na Praça de Alimentação todas as quintas-feiras. Aline Righi, da área de marketing, conta que a escolha dos artistas é feita por uma curadoria de produtores da rádio local, 98 FM, que possui o target semelhante ao perfil do shopping. A rádio é parceira no projeto: prepara a programação do mês, palco e sistema de som profissional, e divulga as atrações.